AS DIFERENÇAS ENTRE OS SEXOS SÃO CRIAÇÕES CULTURAIS | Margaret Mead (1901-1978).

Na sociedade americana do começo do século XX, o papel do homem era ser o provedor da família, enquanto o da mulher estava relegado à esfera privada, sendo ela responsável por cuidar das crianças e do trabalho doméstico porque se pensava que as mulheres eram mais naturalmente propensas a tais papéis. Margaret Mead, no entanto, acreditava que o gênero não é baseado nas diferenças biológicas entre os sexos, mas reflete as condições culturais de sociedades distintas.

As investigações de Mead sobre a vida privada de povos não ocidentais nos anos de 1930 e 1940 cristalizaram a crítica de sua própria sociedade: ela alegava que as formas pelas quais a sociedade americana expressava o gênero e a sexualidade restringiam as possibilidades tanto para os homens quanto para as mulheres. Para Mead, homens e mulheres são punidos e recompensados para encorajar a conformidade sexual, e o que é considerado masculino também é visto como superior.

Mead assume uma abordagem comparativa quanto ao gênero em seus estudos de três tribos na Nova Guiné. Suas descobertas desafiam as ideias convencionais e ocidentais sobre como o comportamento humano é determinado. Os homens e as mulheres arapesh eram "gentis, disponíveis e cooperativos", e ambos cuidavam das crianças — traços que no Ocidente seriam vistos como "femininos".

De modo parecido, era norma para as mulheres mundugumores agir de forma "masculina", sendo violentas e agressivas como os homens. E, numa reversão ainda maior dos papéis tradicionais ocidentais, as mulheres na sociedade tchambuli eram dominantes, enquanto os homens eram dependentes.

O fato de tais comportamentos serem codificados como masculinos numa sociedade e femininos em outra leva Mead a argumentar que as atitudes temperamentais não podem mais ser consideradas como ligadas ao sexo.

Sua teoria de que os papéis de gênero não são naturais, mas criados pela sociedade, estabeleceu o gênero como um conceito crítico. Ela nos permite ver as formas históricas e transculturais pelas quais a masculinidade, a feminilidade e a sexualidade são construídas ideologicamente.

A obra de Mead lançou os fundamentos para o movimento de liberação das mulheres e moldou a chamada "revolução sexual", dos anos 1960 em diante. Suas ideias criaram um desafio fundamental ao rígido entendimento da sociedade sobre os papéis de gênero e a sexualidade.

Depois de Mead, feministas como a antropóloga cultural Gayle Rubin concordaram que se o gênero, diferentemente do sexo, é uma construção social, não há razão para que as mulheres continuarem a ser tratadas como desiguais. Considerar o gênero como algo determinado culturalmente nos permite ver e, portanto, desafiar os modos como as estruturas sociais, como o direito, o casamento e a mídia, encorajam formas estereotipadas de conduzir nossa vida íntima.

Em comparação com o começo do século XX, os papéis de gênero tanto para homens como para mulheres no século XXI se tornaram menos restritivos, e as mulheres participam mais da esfera pública.

Comentários