Florestan Fernandes | Biografia
Florestan Fernandes nasceu em 1920, na cidade de São Paulo. Filho único de mãe solteira, Florestan foi criado em cortiços da capital paulista com a ajuda de sua madrinha, Hermínia Bresser. Ela era patroa de sua mãe, que trabalhava como empregada doméstica. Foi na casa de Hermínia Bresser que Florestan conheceu os livros e percebeu a importância do estudo. A sua origem pobre despertou-o para a importância de analisar-se a disparidade de classes sociais presente no Brasil.
Ainda cursando o primário (que hoje corresponde à primeira fase do Ensino Fundamental), Fernandes teve que largar os estudos para trabalhar e complementar a renda familiar (que era composta apenas pela renda de sua mãe). Foi engraxate, trabalhou em uma padaria e em um restaurante.
No entanto, o jovem pensador jamais abandonou o gosto pelo estudo e pelos livros. Seu retorno aos estudos formais deu-se em 1937, quando tinha 17 anos. Ele fez um curso de educação básica acelerada, parecido com o que chamamos hoje de supletivo, ficando apto a concorrer a uma vaga no Ensino Superior.
Aos 21 anos de idade, Florestan Fernandes ingressou no curso de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo, obtendo título de bacharel em 1943 e de licenciado em 1944. Seguindo a carreira acadêmica, o sociólogo cursou seu mestrado em Antropologia, também pela USP. Nesse momento, ele iniciou uma intensa pesquisa etnográfica que resultou na dissertação A organização social dos Tupinambá, defendida em 1947.
Antes da conclusão de seu mestrado, o sociólogo tornou-se assistente de ensino de seu orientador na USP, o professor Fernando Azevedo. Também nessa época iniciou sua a atuação política, quando filiou-se ao Partido Socialista Revolucionário (PSR), extinto partido de esquerda brasileiro. No ano de 1951, Florestan Fernandes concluiu e defendeu sua tese de doutorado, intitulada A função social da guerra na sociedade Tupinambá.
No ano de 1953, com a saída do sociólogo francês Roger Bastide da USP, Florestan Fernandes ocupou seu lugar ingressando como professor titular na instituição. Destacando-se como um brilhante acadêmico, em 1964, Fernandes defendeu sua tese de livre docência, que mais tarde se tornaria o célebre livro A inserção do negro na sociedade de classes. Percebe-se aqui uma mudança de visão sociológica e de objeto de estudo, que mudou do índio tupinambá para a questão étnico-racial no capitalismo.
Por conta da atuação política em um partido de esquerda por meio da militância pelos desfavorecidos e da atuação docente, Florestan Fernandes foi preso em 1964, quando estourou o golpe provocado pelos militares.
Em 1969, poucos meses após a promulgação do Ato Institucional número 5 (o AI-5) — tal medida derrubava os direitos civis e constitucionais e permitia a prisão sem flagrante ou prévia investigação, inviabilizava o habeas corpus e permitia a cassação de mandatos políticos, entre outras atrocidades —, Fernandes foi preso novamente, destituído de seu cargo na USP e mandado para o exílio, retornando somente em 1972.
No período de exílio, o sociólogo viveu e lecionou nos Estados Unidos e no Canadá, o que alavancou a sua carreira também fora do Brasil, tanto o é que, em 1977, ele lecionou como professor convidado na tradicional Universidade de Yale. Também nesse ano, regressando novamente ao Brasil, Fernandes tornou-se professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Em 1979, Fernandes ofereceu um curso de férias na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, seu antigo ambiente de trabalho. O que era para ser um simples curso sobre a experiência do sociólogo em Cuba, tornou-se uma visão bastante singular sobre o socialismo que mesclava as interpretações clássica e moderna do marxismo.
Na década de 1980, o sociólogo filiou-se ao recém-nascido Partido dos Trabalhadores (PT), sendo eleito deputado federal constituinte em 1986 e deputado federal em 1990, permanecendo na Câmara dos Deputados até o fim de seu segundo mandato, em 1994. Desde 1989, o sociólogo escreveu para uma coluna semanal no jornal Folha de São Paulo, falando sobre política, educação, sociologia e as questões sociais do Brasil.
Seus mandatos na Câmara dos Deputados ficaram marcados pelo trabalho em prol da educação pública, gratuita e de qualidade, e pela defesa do direito das populações marginalizadas e da redução das desigualdades sociais.
A importância de Florestan Fernandes na defesa da educação pública e na dos direitos pode ser medida por sua participação na elaboração da Constituição Federal de 1988 como deputado constituinte e por sua participação na elaboração da lei 9394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB).
Em 1994, Fernandes enfrentava problemas de saúde relacionados ao seu fígado. Em 1995, o sociólogo precisou ser internado por complicações do seu quadro de saúde e passou por um transplante de fígado, aos 75 anos de idade, que, infelizmente, terminou com o seu falecimento, no dia 10 de agosto de 1995.
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